Joga “quem quer” ou quem é influenciado? O papel dos influenciadores no vício das apostas online
14 de maio de 2025
Por Redação
“Joga quem quer”, dizem alguns. Mas se fosse assim tão simples, por que as casas de aposta estão gastando milhões com influenciadores digitais para promover o jogo? A resposta está numa estratégia cuidadosamente pensada: transformar likes em apostas, seguidores em clientes — e, principalmente, perdas em lucros.
Nos últimos anos, as apostas esportivas saíram do canto obscuro da internet — antes restritas a banners piscantes em sites adultos ou plataformas de streaming pirata — para ocupar espaço nobre no Instagram, no TikTok e no YouTube. E não por acaso: estão nos stories, nos reels, nas dancinhas virais, sempre acompanhadas de links de afiliado e promessas de “ganhos fáceis”.
Influenciadores como Virginia Fonseca (convocada pela CPI das Bets, mas que preferiu manter o silêncio sobre quanto recebeu para divulgar casas de aposta), Carlinhos Maia, Felipe Neto e diversos outros nomes de grande alcance chegaram a divulgar ou ainda divulgam plataformas de jogos de azar. Muitos deles construíram audiências fiéis que os enxergam como modelos de sucesso, tornando suas indicações ainda mais poderosas.
Confiança vendida
Antes, o brasileiro desconfiava das bets. Hoje, confia — porque o rosto por trás do link tem milhões de seguidores, uma mansão, um carro de luxo e um lifestyle de sucesso. Essa é a mágica do marketing de influência: não se vende apenas um produto, vende-se um sonho. Um sonho em que o apostador acredita poder conquistar tudo o que o influenciador tem — quando, na prática, está financiando esse estilo de vida com o próprio prejuízo.
Mais grave ainda é que muitos contratos preveem pagamento proporcional à perda dos usuários. Ou seja: quanto mais os seguidores perdem dinheiro apostando, mais o influenciador ganha. É o que já vem sendo chamado de “cláusula da desgraça alheia”.
Engajamento transformado em vício
As apostas não são apenas uma escolha individual. São um modelo de negócio que depende, diretamente, da manipulação da vontade alheia — do desespero, da ilusão de mobilidade social, da esperança fabricada. Transformam o azar em oportunidade, o vício em motivação, e os seguidores em vítimas.
Muitos jovens, inclusive menores de idade, entram nesse ciclo acreditando que “vão fazer a boa”, mas acabam endividados, com contas bloqueadas e nenhum suporte legal. Afinal, boa parte dessas empresas está sediada em paraísos fiscais, onde a legislação é branda e o controle quase inexistente. Já os prejuízos ficam aqui, no Brasil.
Influenciar é responsabilidade
Se os influenciadores não fossem eficazes, as casas de apostas não pagariam cifras milionárias por suas postagens. O que está em jogo — literalmente — é a consciência de quem ocupa esses espaços públicos e o uso ético da sua influência. É possível, sim, ganhar dinheiro com publicidade. Mas quando esse dinheiro vem da perda alheia, da indução ao vício e da desinformação, o preço cobrado da sociedade é alto demais.
Portanto, não: não joga só quem quer. Joga quem é influenciado, quem foi bombardeado por promessas, dancinhas, links e um roteiro bem ensaiado de sucesso. Enquanto o influenciador ganha, o seguidor aposta — e, muitas vezes, perde tudo.