O “DISSE ME DISSE” DE GOIANDIRA E A POLÊMICA DECLARAÇÃO DO PREFEITO

O “DISSE ME DISSE” DE GOIANDIRA E A POLÊMICA DECLARAÇÃO DO PREFEITO

Duração:
15 minutos

O “DISSE ME DISSE” DE GOIANDIRA E A POLÊMICA DECLARAÇÃO DO PREFEITO


No mais recente capítulo do já conturbado segundo mandato do prefeito Allisson Peixoto, os cidadãos de Goiandira foram mais uma vez surpreendidos por uma longa fala que mistura espiritualidade, desabafo pessoal, denúncias veladas e autopromoção. A entrevista — que deveria servir para esclarecer acusações e reforçar compromissos administrativos — acabou sendo uma colcha de retalhos retóricos marcada por contradições, indiretas e um tom de vitimização que desvia o foco das reais necessidades do município.

Uma homilia política?

Ao invés de respostas objetivas e prestação de contas, o prefeito abriu sua fala com um texto enviado por uma moradora, sobre a inveja e o Salmo 70. O tom, religioso e emotivo, tenta transformar críticas políticas em ataques espirituais, colocando-se como vítima de “olhares de inveja” e “palavras torpes”. É uma estratégia perigosa: deslegitimar o contraditório em nome de uma fé subjetiva pode funcionar para parte do eleitorado, mas não responde à cobrança pública por transparência e coerência.

Espiritualidade como escudo

A insistência em invocar Deus e o sofrimento do “homem público” é constante. Allisson se diz ferido, mas resiliente. Perdoa, mas exige retratação. Chora, mas ao mesmo tempo exibe uma força quase messiânica — como quem carrega uma cruz injusta. A crítica aqui não é à fé do gestor, mas ao uso político da fé para se blindar de questões sérias, como acusações de tentativa de silenciar jornalistas ou articulações obscuras de bastidores.

O caso Bruno e o silêncio forçado

A parte mais grave da fala surge quando o prefeito menciona, sem citar nomes diretamente, que foi acusado de tentar “calar a palavra” de um jornalista — Bruno — por meio de um suposto contrato. Ele nega a acusação, diz não precisar disso e desafia o denunciante a buscar provas com o deputado Gustavo Seba. Porém, o que deveria ser um esclarecimento objetivo vira uma enrolação emocional, onde Allisson apela à própria renda empresarial para justificar que não teria motivos para usar a máquina pública em benefício pessoal.

Mais uma vez, falta clareza. Se há boatos, devem ser desmentidos com provas, e não com sermões. Se há calúnia, que se processe. O que não dá é transformar o debate político em palco de ressentimentos pessoais.

Populismo emocional e o messias do milhão

Com um tom cada vez mais teatral, o prefeito afirma que sua renda vinda de dois postos de gasolina o isentaria de qualquer motivação política ou financeira. Diz que não precisa da prefeitura, que seria até capaz de se candidatar a deputado estadual “se quisesse”. É uma tática típica de populismo: projetar-se como alguém acima do sistema, perseguido pelos fracos e invejosos, e destinado a algo maior por vontade divina.

O que se viu na sequência foi um show de bajulação explícita de aliados e apresentadores, exaltando a “humildade” do prefeito, dizendo que ele “não deveria pedir desculpas por moscas”, e declarando apoio irrestrito à futura candidatura de Allisson ao Legislativo estadual. A sessão, que começou como entrevista, terminou como palanque.

Onde está Goiandira nisso tudo?

O mais grave de toda essa fala é o que foi deixado de lado: as demandas reais da população. Educação? Saúde? Infraestrutura? Nenhuma menção. Transparência nas contas públicas? Nem uma palavra. A administração parece mais preocupada em construir um escudo moral para proteger o gestor do que em enfrentar os problemas da cidade com seriedade e responsabilidade.

Ao transformar a política em disputa pessoal, Allisson Peixoto perde a oportunidade de elevar o debate público e se apequena diante da complexidade da gestão. Enquanto tenta vencer inimigos imaginários à força de Salmos e desabafos, a cidade espera respostas práticas e ações concretas.

Conclusão:

O povo de Goiandira merece mais que um discurso carregado de emoção e misticismo. Merece clareza, prestação de contas, planejamento e, principalmente, um gestor que compreenda que crítica não é inveja — é parte essencial da democracia.