O Trem da Memória e o Resgate de Goiandira

O Trem da Memória e o Resgate de Goiandira

Duração:
15 minutos

O Trem da Memória e o Resgate de Goiandira

Era uma noite especial, daquelas que parecem arrancadas das páginas de um romance ferroviário. No dia 24 de fevereiro, a cidade de Goiandira, em Goiás, voltou no tempo para celebrar os 112 anos da chegada do primeiro trem à cidade e da inauguração de sua primeira estação ferroviária. O evento, realizado no Colégio Estadual Amélia de Castro Lima, não foi apenas uma solenidade. Foi um abraço coletivo na história, um resgate daquilo que o tempo, o descaso e a pressa moderna insistem em apagar.

E se o passado parecia distante para muitos, naquela noite, ele voltou a apitar forte nos corações de todos.

Memória sobre trilhos

O professor Érick Marcos, historiador e ex-prefeito de Goiandira, foi uma das vozes desse reencontro com o passado. Com a paixão de quem sabe que uma cidade sem memória é um trem sem trilho, ele lembrou a importância de preservar a identidade ferroviária de Goiandira.

Goiandira é uma cidade ferroviária, e precisamos resgatar essa história para que as novas gerações entendam suas raízes”, enfatizou.

E era isso mesmo. O evento não foi só para lembrar os trilhos de ferro, mas também para reatar os laços humanos que eles criaram. Entre os presentes, ex-ferroviários se reencontraram depois de décadas. Histórias de suor e saudade foram recontadas com olhos marejados. O Sr. Aristides, ferroviário das antigas, encontrou-se com o maquinista Linger depois de anos sem contato. Foi como se o tempo tivesse parado, só por um instante, para que a memória tomasse o vagão principal.

Um patrimônio que pede socorro

Mas nem tudo são flores na estação da história. O professor Érick fez questão de apontar um problema grave: o descaso com a preservação das antigas estações. A primeira, restaurada em 2011 com recursos federais, passou por intervenções da prefeitura que não seguiram as diretrizes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Pior ainda: a terceira estação, construída pelo Batalhão Mauá em 1978, está completamente descaracterizada.

Isso é um desrespeito à nossa história, ao Batalhão Mauá e a todos que ajudaram a construir Goiandira”, criticou o professor.

E a pergunta que ficou no ar foi: até quando a história da cidade será deixada ao abandono? A resposta, pelo visto, depende mais da mobilização popular do que dos gestores públicos.

Um livro para não esquecer

No evento, também foi lançado o livro A Estrada de Ferro de Goiás: As Fitas de Aço da Integração, de Edmar César. Com mais de 600 páginas, a obra é uma verdadeira viagem pelos trilhos da história goiana. Para quem quiser embarcar nessa leitura, o livro está sendo vendido por R$ 70,00, um preço pequeno para o peso cultural que carrega.

E a política?

Claro que, numa conversa com um ex-prefeito, a política entrou nos trilhos da discussão. E a realidade não é das mais bonitas. Segundo Érick, Goiandira tem passado por capítulos trágicos na administração municipal, com escândalos, fraudes e desmandos.

Mas quando perguntado se voltaria à vida política, ele foi direto: “Meu nome sempre estará à disposição da população. Servir as pessoas é minha vocação”.

E assim terminou a noite: entre reencontros emocionantes, alertas sobre o futuro do patrimônio e a certeza de que Goiandira ainda tem muita história para contar.

A pergunta que fica é: será que vamos deixar esse trem partir sem olhar para trás?