Polêmica em Goiandira: Cadastramento para casas a custo zero levanta questionamentos sobre transparência
Prefeito afirma que inscrições deveriam ocorrer apenas no CRAS
No início do processo de cadastramento para as casas do programa “Custo Zero”, o prefeito de Goiandira gravou um vídeo afirmando que todas as inscrições deveriam ser realizadas exclusivamente no CRAS. Segundo ele, o procedimento era acompanhado de senha, Cadastro Único e toda a equipe técnica necessária para evitar equívocos.
Ainda de acordo com o prefeito, nenhum outro local poderia receber inscrições, reforçando que somente no CRAS seria válido o processo. Ele anunciou que a equipe da GEAB (Agência Goiana de Habitação) estaria presente na semana seguinte para dar continuidade ao levantamento das 50 famílias cadastradas.
Apesar da fala do prefeito, o edital nº 12/2025 da GEAB, em seu inciso 1.8, deixa claro que as inscrições deveriam ser feitas online, gratuitamente, pelo site oficial da agência: www.goias.gov.br. O documento não veda o cadastramento em outros locais, permitindo, inclusive, que fosse feito em casa ou em órgãos públicos, desde que pela plataforma digital.
Assim, surge a primeira contradição: se o edital não limitava o local de inscrição, por que o prefeito insistiu que só poderia ser feito no CRAS?
No mesmo período, o deputado Jamil enviou à Câmara Municipal de Goiandira uma equipe treinada para auxiliar a população no processo de inscrição. Todos os cadastrados na Câmara passaram para a etapa seguinte, o sorteio das casas, desmentindo a narrativa de que haveria irregularidades.
No entanto, em vídeo posterior, o prefeito alegou que o uso do espaço da Câmara seria “inconstitucional” e mencionou até que o governador Ronaldo Caiado e o sobrinho Carlinhos Caiado estariam insatisfeitos com a situação. Para críticos, essa postura soou como uma tentativa de desqualificar as inscrições feitas fora do CRAS e, possivelmente, manipular o processo.
Diante das contradições, o vereador Pedro Augusto levou os questionamentos à população e ao Ministério Público. Ele destacou que, mesmo após todo o processo dentro do CRAS, 13 inscritos foram desclassificados, o que levanta dúvidas sobre a transparência do procedimento.
Entre as perguntas feitas pelo vereador estão:
Segundo Pedro Augusto, ao invés de garantir igualdade, o prefeito tenta manipular o processo a cada oportunidade, inclusive trazendo Carlinhos Caiado a Goiandira em um episódio visto como tentativa de interferência política.
Por conta dessas suspeitas, o vereador registrou denúncia junto ao Ministério Público de Goiandira no dia 7 de agosto, pedindo investigação sobre a condução do sorteio.
A Câmara de Goiandira, por sua vez, destacou que foi a responsável por legislar a área do Portal do Sol, transformando-a em zona habitacional. Também aprovou critérios de prioridade, como o atendimento a mães solteiras. Sem essa mudança legal, o município sequer teria condições de receber as unidades habitacionais, já que, diferente de outras cidades, não possuía lotes regularizados.
Mesmo assim, Goiandira acabou ficando atrás de municípios vizinhos, como Anhanguera, que recebeu casas primeiro por já ter lotes devidamente regularizados.
Entre as 129 famílias inscritas, apenas 30 foram sorteadas, o que já gerou frustração em muitos moradores. Porém, o maior motivo de indignação foi a falta de clareza sobre os critérios de desclassificação. Vídeos de pessoas celebrando a conquista se tornaram, em seguida, exemplos da decepção causada pela exclusão repentina de 13 beneficiados.
Um dos sorteados desabafou:
“Acho uma grande covardia fazer um sorteio antes de investigar a vida de todo mundo. Depois de escolhido, é que vão olhar se a pessoa está apta? Isso não é justo.”
O caso expõe falhas graves de gestão e comunicação. De um lado, o prefeito defende que o CRAS era o único espaço válido para inscrições. De outro, o edital oficial e a própria atuação da Câmara e do deputado Jamil mostram que havia mais de uma forma correta de participar do processo.
Enquanto isso, famílias goiandirenses continuam sem respostas claras. A investigação do Ministério Público será fundamental para esclarecer se houve manipulação política, falha administrativa ou má interpretação das regras.
👉 Essa matéria foi baseada em declarações públicas, vídeos e documentos oficiais. Os questionamentos foram levantados pelo vereador Pedro Augusto, que formalizou denúncia no Ministério Público.